Poéticas Contemporâneas
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sábado, 3 de dezembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
ANTÓNIO BARAHONA, por David Teles Pereira
Habituámo-nos a ver a intemporalidade à distância de uns quantos séculos. As palavras de Tucídides, que nos falavam de “uma obra que não foi concebid[a] para ganhar prémios ao ser ouvid[a] de momento, mas como um legado para sempre”, são interpretadas como se realmente tivesse que passar um “para sempre” pelas obras para estas serem dignas da tão honrosa memória.
António Barahona é um poeta intemporal, porque esta palavra deve necessariamente ter o sentido que Tucídides lhe deu, mas deve também ter outro sentido, o da comunicação vibrante entre o antigo e o novo, entre o consagrado e a promessa. Neste sentido, este “poeta limpo, obstinado” que mede “linha a linha o universo que o seu gesto d’escrita construiu”, ocupa um lugar na poesia portuguesa que até agora esteve sempre vago.
António Barahona é um dos poetas do Café Gelo, “um café à beira do abismo: conversas incendiadas, sismo a sismo, no desabar da época”, é amigo de Cesariny e de António José Forte, este último um poeta “com a morte perto e grande coração”, é o homem que ama “a mesquita grande de Lisboa, as suas colunas de luz pétrea e a cúpula com os noventa e nove nomes de Deus”. Mas é também o velho principiante cuja “aprendizagem, como poeta, foi lenta e dolorosa”, é o “bruxuleante jovem, muito velho”, é o poeta que, da sua idade, é capaz de nos surpreender com versos de uma paixão a ferver de juventude: “Contigo nos meus braços sou capaz de atravessar paredes, tornar-me invisível, fazer milagres”.
É raro, muito raro mesmo, um poeta com o percurso de António Barahona fazer aquilo que ele fez em “O Som do Sôpro” ou em “Raspar o fundo da gaveta e enfunar uma gávea”. Entre outras coisas, há um desejo que atravessa estes dois livros, o desejo da comunicação com os poetas mais novos e com a sua poesia, na qual o António se coloca tanto na posição de mestre como na de aprendiz. Tão raro é que tão poucos o têm notado, provavelmente vítimas do hábito de vermos os poetas consagrados mais preocupados em ultimar os detalhes da posição de estátua que querem ocupar para a posteridade, do que em estreitar um abraço aos outros. E, como num abraço, António deu e recebeu.
Julgo ser esta a posição que ocupo aqui hoje, não a de editor do António Barahona num dos melhores conjuntos que já tive o prazer de publicar com o Diogo na Criatura, não a de crítico que, por vezes, tem escrito sobre poesia, mas a de jovem leitor e poeta que encarecidamente agradece a António Barahona o este não ter estado à distância a que todos os outros, ainda que legitimamente, nos têm votado. Assim, com este poeta aprendemos algumas essencialidades sobre a poesia: “Não ter pressa, excepto quando se trata de encontros com Deus.”; “O homem antes de falar cantou sílabas reveladas sem semântica e só depois falou”; “Dizem que poeta não é uma profissão, mas eu digo que poeta é, sim, a profissão maior, repleta d’amor que não se esfuma”.
Mas, no meio de tudo isto, o que acaba por ser surpreendente, principalmente para os mais novos, é que o António é, como bem referiu o Manuel de Freitas, um dos grandes novíssimos da nossa poesia. A sua escrita é, com o seu acordo ortográfico próprio e perfeitamente fixado, um esforço de movimento, de eco, tanto no sentido sonoro como no sentido ideal desta palarva, e, também, de aprendizagem que “obriga”, como o poeta nos diz, “à constante reescrita do poema”. É na “Grande-Guerra-Santa da prosódia”, a expressão é do autor e não minha, que se constrói a matéria do poema e para tal, primeiro que tudo, “pesam-se os tons das sílabas”. A lição é simples, ter esta humildade já não o é tanto e, muito menos, é conseguir fazê-lo.
Por isso, tenho que aproveitar esta oportunidade para dizer o mesmo que Yarir disse no seu poema de homenagem a Al Farazdaq: o António Barahona, enquanto poeta, não descansou enquanto não deixou para traz de si, em toda a fera, o golpe de um trovão.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
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